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Os segredos por trás de uma tradução


Navegando no Pinterest (quem ainda não tem o costume de fazer isso, fica aí a dica!), deparei-me com um infográfico muito interessante, feito pela Clara Giampietro, sobre o processo de tradução, e não pude resistir a escrever sobre o assunto. O gráfico abrange uma longa série de passos que são (ou deveriam ser) naturalmente seguidos pelo tradutor durante o processo tradutório e, por abranger tantos detalhes, achei uma boa ideia expor em texto corrido o que a Clara fez tão lindamente em forma de infográfico.


  • Especificações


Antes de qualquer coisa, ao deparar-se com um texto, seja ele um contrato social de uma empresa, uma press release, um script de um episódio de série ou mesmo um manual, o tradutor precisa avaliar as características daquele texto, levando em conta a quem ele se destina (tanto os leitores do texto quanto o cliente que está solicitando o trabalho), de quais materiais de consulta ele vai precisar para fazer a tradução daquele texto (glossários, páginas na web que forneçam informações sobre o assunto, um amigo especialista em uma determinada área etc.), assim como o formato com que aquele material se apresenta (se ele está em PDF editável ou não, em planilha, em documento simples de texto, em material impresso, qual é a formatação desejada pelo cliente) e, por fim, com base nessas informações, principalmente nas últimas, quais ferramentas serão utilizadas (uma CAT Tool ou um programa simples de leitura e edição de textos?).

Tudo isso, que se encaixa nas especificações, por incrível que pareça, geralmente tem que ser processado de forma relativamente rápida (em questão de minutos) pela ágil mente de um tradutor quando ele é consultado a respeito de um trabalho – o cliente precisa da confirmação, e, em geral, essa confirmação tem que ser rápida.


  • Pesquisa de terminologia e muita leitura


Além de dominar um ou mais idiomas além do seu próprio (e com dominar quero dizer conhecer a fundo conceitos linguísticos como registro, semântica, regras gramaticais que envolvem morfologia, sintaxe e tantos outros aspectos particulares de cada língua), o tradutor precisa ser um bom pesquisador. Ao começar a tradução em si, seja qual for o tipo de texto com que se está trabalhando, é preciso fazer uma pesquisa da terminologia específica àquele assunto. Uma boa forma de fazer isso é consultando fontes do próprio cliente, como, por exemplo, um website da empresa para a qual o texto está sendo traduzido; pesquisar terminologia em artigos relacionados ou mesmo periódicos de determinada área do conhecimento, se for o caso, é uma opção muito válida. Às vezes, nem tudo isso é suficiente, e o tradutor tem que se valer de outros meios: vale consultar aquela amiga advogada, aquele conhecido que se formou em engenharia, o vizinho que tem uma loja de artigos de pesca, participar de fóruns de discussão de tradutores, enfim, é preciso usar a criatividade e o jogo de cintura quando o assunto é encontrar a terminologia adequada para uma determinada tradução. E, claro, é preciso ser um leitor não só ávido, como ágil também.


  • A tradução em si


Ao longo desse processo, a tradução propriamente dita vai sendo realizada. Escrevi há um tempo um texto sobre a definição de tradução, em que também coloquei as definições de alguns termos relevantes dessa área, como língua de partida e língua de chegada, entre outros. Aqui, é muito importante sempre prestar atenção ao fato de que traduzir significa, como a Clara colocou em seu infográfico, comunicar o significado de um texto na língua de partida (ou língua-fonte), levando em consideração todas aquelas especificações que foram vistas antes. Isso quer dizer que é preciso ter em mente, o tempo todo, o público-alvo da tradução, o formato em que ela deve ser apresentada, assim como sua finalidade, entre outros aspectos, para poder comunicar o significado que se quer transmitir de forma bem-sucedida.


  • Edição e revisão


Terminada a tradução, o trabalho do tradutor ainda não acabou (!). É preciso partir, então, para a edição e a revisão. Embora, na maioria das vezes, a tradução passe por outra pessoa encarregada da revisão (e é sempre recomendável que a revisão seja feita também por uma outra pessoa), é muito importante que o tradutor, ao chegar ao fim do texto, releia-o desde o começo, sempre comparando com o original, para ter certeza de que nenhum parágrafo tenha ficado de fora, para garantir que o estilo empregado seja o apropriado, assim como para conferir se a leitura do texto está fluindo bem; também é muito importante conferir a ortografia, a concordância e a coesão – detalhes que podem escapar durante o processo da tradução, já que, nesse momento, estamos concentrados na terminologia e em outros aspectos linguísticos.


  • Formatação


Outro passo a ser dado é conferir a formatação: a fonte utilizada e o layout da página estão de acordo com o que foi pedido pelo cliente? Existem gráficos e imagens no texto que precisam de legendas? Existem numerações ou outras marcações que não podem faltar na tradução? Todas as especificações analisadas no início foram cuidadosamente seguidas? Quanto a esses detalhes, as ferramentas de tradução (as famosas CAT Tools), como o Trados, o MemoQ, ou mesmo a Smart CAT (esta última, uma ferramenta online e gratuita bem mão na roda para quem está começando e ainda não tem condições de pagar o preço um tanto quanto salgado de outras ferramentas) fazem um ótimo trabalho, pois transferem para a tradução, por meio de tags, a formatação do texto original. Mesmo assim, só por desencargo de consciência, é sempre bom dar uma última conferida (gente ansiosa é outra coisa, né?).


  • Últimos retoques e entrega


Se houver tempo hábil (embora isso seja raro, infelizmente), ler somente a tradução, sem se preocupar, dessa vez, com o original, para realmente sentir como o texto ficou na língua de chegada (ou língua-meta), é uma boa ideia.



Por fim, chegou o momento de entregar o trabalho. Aqui, é importantíssimo ressaltar a questão do prazo. No mundo da tradução (ou melhor, do mercado da tradução), prazo é uma palavra sagrada, e transgredi-lo pode custar muito caro ao tradutor – é triste dizer isso, mas um trabalho entregue depois do prazo combinado pode pôr a perder todo o esforço empregado na realização do processo tradutório. É claro, existem clientes e clientes, mas, por via das dúvidas, tenha sempre em mente que entregar o trabalho dentro do tempo que foi combinado é uma etapa tão importante quanto todas as que foram vistas até aqui. Lembre-se sempre de planejar suas tarefas levando isso em consideração e tudo vai dar certo.


Ainda com relação a esse último passo, é de bom tom manter uma comunicação cordial com o cliente. Somente enviar o arquivo da tradução dizendo “Segue tradução” pode ser prático, mas também pode causar uma impressão de distanciamento e frieza, fazendo o seu cliente assumir uma postura semelhante com relação a você (o que pode te levar ao esquecimento). Como em quase tudo na vida, equilíbrio é fundamental: não precisa dizer “e aí, parsa, tudo em cima?”. É possível manter uma relação cordial e profissional ao mesmo tempo.




Dito isso, espero ter conseguido transmitir como o processo da tradução é rico e intrincado, e como ele exige, de quem o exerce, tantas habilidades e conhecimentos. Para aqueles que se interessam por essa carreira, espero ter conseguido dar uma ideia de como esse trabalho é realizado e, por favor, caso tenha dúvidas ou queira trocar ideias sobre o assunto, sinta-se à vontade para entrar em contato.


 

Confira o gráfico da Clara Giampietro, traduzido para o inglês, espanhol, italiano, russo e francês.



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